20 fevereiro 2009

Voltar a Viver

Texto, letra e música de Henrique Corrêa
Escute a música enquanto lê.

Fatalidade.
E todos a chorar.
Lamentação.
_ Era jovem demais.
E o caixão aberto, à exposição.
Nem dá pra agradecer pelos arranjos florais.

E lá de fora o barulho dos vizinhos com a curiosidade
Que se mistura ao barulho dos cães e pássaros em liberdade.
O barulho suspeito de tosse ou catarro cuspido na rua.
Pelas janelas abertas entram sol, vida, silêncio e lua.

Desespero.
E eu, à chorar.
Já foram lágrimas demais.
À pouco estarei coberto por estrume de animais.

E estas vestes de madeira que me deram pra poder enfeitar.
A maquiagem e a roupa que eu nem tinha condições de usar.
Pra onde irei agora, nem mesmo Deus conseguiu explicar.

E a vontade que lidera o pensamento é a vontade de viver.
Voltar a viver.

13 fevereiro 2009

Carnal Val

Texto de Henrique Corrêa - 13/02/2009

Ah! O carnaval!
Foi a primeira vez que tudo aconteceu.
Tudo mesmo.

A primeira vez que olhei diretamente nos olhos dela. Ela olhou diretamente nos meus.
A primeira vez que trocamos palavras. A primeira vez que ela sorriu pra mim.
Também foi o dia em que ela me disse que gostava de dançar. Foi a primeira vez que dancei.
Foi a primeira vez que ela me abraçou. E a primeira vez que eu a beijei.

E foi também a primeira vez nós fizemos amor.
Pra falar a verdade, foi a primeira vez que eu fiz amor.
Foi minha primeira experiência sexual. E que experiência!

Tudo aconteceu no primeiro dia de carnaval.
Foi a primeira vez que me esqueci de perguntar o nome.
A primeira vez que não me perguntaram.
O primeiro dia que me jogaram confetes enquanto eu acariciava um longo par de pernas.
E foi o primeiro dia que estas pernas se cruzaram com as minhas, e com minhas mãos, e com meu sexo.
E depois, a dona destas pernas seria meu primeiro amor.

Ela disse: _ É a sua primeira vez?
Eu disse que "não" pela primeira e ultima vez.

E foi a ultima vez que me perdi.
A ultima que eu perdi.

E foi a ultima vez que perguntei o nome.
Antes de sair ela disse: _ Val, meu nome é Val.

E foi a ultima vez que eu a vi.
E foi o ultimo dia daquele carnaval pra mim.
Também foi a ultima vez que menti.
A ultima vez que amei.

Ah! O carnaval!
Foi a ultima vez que tudo aconteceu.
Tudo mesmo.

07 fevereiro 2009

Estou Vivo

E com direitos sobrando, reclamo
E é por saber onde vou que prossigo
Para deixar de viver no engano
Guardo o suor e a dor que conquisto

Ter que ser pisoteado todos os dias
Sem querer sou odiado pela justiça
Por saber que sou curado pelo seu pranto
Quem me segue esta alterado pela cobiça

Fazer o que?
Nada vai me tirar com vida
Quero poder quebrar o elo e tudo que insiste
Rimar parede e avião tendo consistência
Não ter que me mudar de casa ou aparência

Se mecher no meu lápis de cor
Se cutucar com caneta a dor
Se mudarem a fonte do computador
Estou vivo.

02 fevereiro 2009

Vida

No dia em que eu morrer
Não desejo morte sofrida.
Seja de morte matada,
Seja de morte morrida,
Ou por não temer a dor
Deixada por muita ferida.
Mas por enquanto, meu amor,
Eu quero aproveitar a vida.

Poesia de Henrique Corrêa

Ritual do sono